Pressionada pelos partidos da base, a presidente Dilma Rousseff
mandou abrir o cofre na tentativa de pacificar os aliados insatisfeitos
com o controle sobre os gastos dos ministérios e com o arrocho imposto
à liberação das emendas dos parlamentares em ano eleitoral. O
movimento veio tarde e não foi capaz de abafar a rebelião da base,
sobretudo do PMDB. O maior sinal do forte desgaste na relação com o
Planalto foi a rejeição, na tarde de quarta-feira, 7, da recondução de
Bernardo Figueiredo para a presidência da Agência Nacional de
Transportes Terrestres (ANTT). O nome de Figueiredo era avalizado pela
presidente por ser um petista que coordena o projeto do trem-bala, uma
prioridade do Planalto.
O primeiro gesto de pacificação da base
dado pela presidente Dilma foi determinar à ministra da Casa Civil,
Gleisi Hoffmann, que se reunisse ontem à tarde com a colega do
Planejamento, Miriam Belchior, para tratar da liberação de recursos
para emendas orçamentárias de parlamentares que têm pressa de atender
as bases eleitorais.
Mas a presidente também pretende entrar
pessoalmente em ação, para se reafirmar como interlocutora da base -
papel que até então evitava assumir -, e não apenas do PT. Dilma
pretende participar mais regularmente de reuniões com parlamentares.
A
decisão de entrar em campo e abrir negociação para pacificar os
partidos rebelados veio no embalo do manifesto do PMDB contra o
tratamento "privilegiado" do conjunto do governo ao PT, o que, para
peemedebistas, põe em risco a eleição de prefeitos da sigla.
Na
véspera, em reunião com o vice-presidente da República, Michel Temer,
descontentes do PMDB das cinco regiões do País queixaram-se da "falta
de instrumentos e autonomia" dos ministérios para atender as bases.
"O
pagamento das emendas não é favor: é direito nosso e está na lei
orçamentária", protestou o líder peemedebista na Câmara, Henrique
Eduardo Alves (RN). "O que o partido vai dizer na sua base? Em outubro
houve um acordo com o governo para a liberação das emendas. Mas nada
disso aconteceu. Pelo contrário, contingenciaram tudo." Segundo Henrique
Alves, os ministérios não cumpriram de 30% a 40% dos empenhos
autorizados pela própria presidente. Agora, Dilma determinou que sejam
refeitos os cálculos para que as emendas sejam liberadas.
Coube
ao PMDB aparecer como o pai da rebelião. Mas há insatisfação em todos
os partidos da base, até mesmo do PT. Prova disso é que na reunião de
líderes governistas, ontem, o apoio ao manifesto do PMDB foi geral.
"Todos os líderes da base disseram que queriam assinar o documento",
assegurou Alves. É diante deste cenário que Temer e os líderes
peemedebistas deverão participar de uma reunião, ainda hoje, com as
ministras Gleisi e Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
Henrique
Alves admite que a queixa geral na bancada é de que ministros do PMDB
não têm autonomia para liberar um centavo. "Estamos discutindo a
relação com o governo e queremos tratamento equânime: o que derem ao
PT, tem que ser dado ao PMDB", protesta o deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ).